sábado, 10 de fevereiro de 2018

Átimo [versão dois]

Gostaria de seu corpo aqui
Comigo agora
Sua presença passeando aqui
Em mim agora
Saber de ti
Se há vontade recíproca
É ligeiramente estranho
Desejar e agir concomitante a um automático
Novo desejar desequilibrado, todavia, pelo seguinte
agir.
É estranho
Entretanto quero
E me importa não faltar com a integridade da
Leve paixão
E me importa não faltar com a integridade da
Leve paixão
E me importa não faltar com a integridade da
Afeição que nos trança como a matéria na brisa pulsa no seio do tempo

Sentimento de afeição

Troco passos diretos por solilóquios em eufemismo.

Titubeio frente ao passo próximo.

Veio-me este afeto que toca como algodão sobre a pele.

Uma ternura que expande e estende-se à vontade entre nós.

Nos liga uma conexão singela, leve, pacífica e franca.

Gostaria de seu corpo aqui comigo agora destino afora.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Autuada



Folhagem almirante da casa.
Fronha sofá das visitas.
Beberico a carne da ostra.
Vodka na concha para o tigre.
Tudo em paz.
Na toada
Até a besta-fera
Tergiversa silente.

Inédita precisão da amigada por força da acelga justiça.

Os tangos gregos sabiam há já muito mesmo.
A Justiça precisa de fita sobre os olhos, pois senão que seria da hierarquia, Homo? Zenão.

Genoveva



Sou matrona russa generosa.
Tenho filhos. Tenho netos e bisnetos.
Natas desdobradas de minha beiça.
Livros, teses e poesia.
Grande algaravia almoça, bebe uísque, e choça sem cabelo.

Desovo exasperada. Pedrada sobre uma nua pedala.

Sofreguidão dos afogados


Entorpecida sim. Isso mesmo.
Sofreguidão dos afogados.
Contra-fogos afofados.
Odeio o tédio dos morosos filhos da burguesia decrépita. Asna Maria concedida sem pecados. Pagai por nós. Limpadores de chaminé no tempo de Blake.

Iguaria inglesa. Limpe-se com a calda de Wilde, aquele dançarino de sapateado.

Sono



Em busca do sono perdido, disse-me Martha.
Frase linda para quem vive a maior parte dos dias
Durando na brusca parada do relógio. Seja no tempo hagiográfico, seja no da peste, tento arrumar o sono.

Palavra de touca

Uma palavra sai de touca
Cor terra
Para assar
Como na gosma

Acomoda-se a lama

Alça de vulva e metal



Ser o supor-te de uma vida
Caule puro pólen
Mórula de todos os galhos
Vi uma árvore que envolve mureta de tijolo cinza.
Concreto da vida
Cimento sobre cimento
Matéria sobre matéria
Hera uma, duas, três vezes.
África. Leão. Cavalgo cal marinho.
Alça viúva e colorida.
Faria repeteco desta vida se soubesse que seria suporte de uma arte aberta. Como naco, é que nasço. Suporte de vida.

Licença


à Automática

Abre a porta desesperada. Parece que viu fantasma. A luz do ouro perseguiu-me e o cavalo reagiu.
Cai cascalho nervoso.
Asco Cosido ao azedo e viscoso. Caudalosas pernas da lesma atrevida. Toda lesma é atrevida, ora. Lesma perfumada perdia todas as festas da mata. Até que um dia mudou-se para uma floresta mais desenvolvida em solidariedade e encontrou libélulas ginastas que a levaram esparramada sobre uma forte folha até o local do arraial. Formigas vacas por todos as laudas. Sem sequer cerimônia, desancam seus passos tremeliquentos. Ai essas pretinhas fritas.
Casulo quebrado quedrabo. Baía de Guanabara desce banguela deitada. Floresta Negra acorda como alfafa nascida à mesa. Esmero belo fio dental entre uns ais e um nunca mais às letras reluzentes dessa palma quadrúpede. Planta de açúcar, canela de pau, açougue das pedras mortas. Rosas. Flor de açucena, trigo de arroz. Branco de tigela sorridente como a vaca obesa sobre a magra grama mofada. Pelaria de gato afofado em plena chácara assustada pela guerra vinda do planalto e decepada pela quaresma do cerrado. Cercado o açude, todos esvaziados das roupas grossas e vestidos por cetim semitransparente como a relva de meus sonhos gelatina. Atina, alivia, lívida sensação fria como dor de dente. Quente, claro. Nesta rima que pula amarelinha entre o Chaves e a Chiquinha. Girafálica miraárida palma pomer. É obvio o ovo no óbito. Da morte nasce a vida mesmo que se não queira deixar rodar o dia. Roleta inescapável. Segura o calendário com todas as forças da Terra, mas ela não te dá ouvidos. Sufoca a forca o enforcado arauto da vida enjaulada. Cabeça da tia assado na chapa lenha enfurnada na tua axila azeda. Serpente colorida. Latrina enfeitada de purpurina, glitter, rock e serpentina. Cão testa com testa comigo. Beijo budista. Saudação anímica. Com Mimosa e Zuzu, a Chuchu e a Zizoza.

Pázina

Às vezes, no pigmento da noite, imagino nosso comum como a pintura “Mulher do vento”.

Liso sorriso discretamente aberto. Fresta.

Às vezes no pigmento da noite, imagino nosso comum como a mulher do vento.

Mastigo a vírgula que nos distancia. Festa monossílaba.

Encerro o ponto marcado nos lados, cerca habitado por nosso comum. Cilada serra minha paz.

Cerco-me de diretivas racionais para estancar o pensar amoroso que dirige a consciência para nosso comum
concomitante às tentativas de me concentrar no trabalho de te traduzir. Ai, eu tudo agora pasmaceira desvairada Tâmisa de paixão correndo. Mas não. Não pode assim. A corrente da civilização presta tenência, apara a barba e passa religiosamente a roupa carmesim destinada a encarrilhar a silvestre paixão ornamentada para desfilar segundo o trilho dos dias. Que leve ao amor em um mínimo de tempo em dor. Incinerar o malestar, comer a brasa, desmembrar a fome de nosso comum, parcelar o desejo e picotar sempre novamente as zonzas de têmpera alvura. Angústia de pesadelo. Dano. Súbito rodopio quer ser canção de ninar. 

Diz, penso. A Química está boa também. Damage. Quantum. Um quanta azeda nesta pázina indefesa aberta. 

Cambraia Grilo Falante



Quanto senão nessa merda.

Ele diz, penso.
Elidir não fecha conta.
Nuto e anoto.
Guardo distância.
Ética em punho e de todo pranto.
De vos, palco e cortina ciceroneiam.

Voz caída.
Ouço de perto os golpes da miséria humana.
É a banalidade do mal na fronte dos gestos desiguais em número, classe e forma.

Forro e forma do vão entre a clandestina consciência e a declarada vontade pútrida. Contrabando perpétuo. Ah, sim sei bem sua vilipendiana desprovidez de pudor sequer por uma gota de vinagre estendida na fenda pública da pele personificada aqui. Aqui neste corpo agora. Açoito os sons daqueles memoráveis golpes recorridos em lembrança repetidamente. Moral mobral.

Soletra




Solilóquio acui
Sorrio lá
Qual pedaço de galho

Partejo curió

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

A rosácea do povo

A rosácea das lutas em defesa da democracia cada vez mais poderosamente organizada conforme mais atos #EleiçãoSemLulaÉFraude, digo, rosáceas pelo Brasil.
"Seja qual for o mito tomado por centro, suas variantes irradiam-se em torno dele, formando uma rosácea, que se expande progressivamente e se complica. E, seja qual for a variante colocada na periferia que escolhemos como novo centro, o mesmo fenômeno se reproduz, dando origem a uma segunda rosácea, que em parte mistura-se à primeira e a transpõe. E assim por diante. Não indefinidamente, mas até que essas construções encurvadas nos levem de novo ao ponto de onde partimos. Disso resulta que um campo primitivamente confuso e indistinto deixa perceber uma rede de linhas de força e revela-se poderosamente organizado."
Lévi-Strauss, De perto e de longe, p. 181